A saúde mental, para a psicanálise, não funciona como uma régua que separa quem é saudável de quem não é a partir de um critério geral e fixo, sem levar em conta a singularidade de cada um. Ela entende a saúde mental como um conjunto de processos mentais que funcionam de forma particular em cada pessoa.
Esses processos de saúde têm por tarefa elaborar ou representar em palavras e ideias os conflitos psíquicos advindos ora de acontecimentos externos, como quando sofremos um acidente ou perdemos um ente querido; ora de necessidades e estímulos internos, como no caso do nosso desejo inconsciente.
Sendo assim, tais processos abrangem paradas, regressões e desvios que vão caracterizar “momentos de adoecimento”. Fazendo desses processos algo não linear ou contínuo. O adoecimento faz parte do processo de saúde. Podemos tomar como paradigma os casos de resfriados que as crianças têm, e que são importantes para desenvolverem anticorpos necessários para combater vírus mais graves no futuro. A mesma lógica se aplica aos processos de saúde mental.
Consoante a isso, os chamados transtornos mentais, como por exemplo ataques de ansiedade, fobias, pensamentos intrusivos etc., serão entendidos como interrupções graves ou nem tanto, que impedem os processos de saúde de cumprirem com seus objetivos, que é a elaboração do conflito mental. Assim, o tratamento em psicanálise se faz necessário na medida em que contribui para libertar os processos de saúde do entrave doentio, ajudando a pessoa a elaborar seus conflitos e, assim, restabelecer a sua saúde mental.